Zinco – Aspectos práticos na nutrição clínica

A preocupação com a nutrição é uma realidade nos dias de hoje. A procura por alimentos ou substâncias que trarão algum benefício à saúde gera pesquisas a todo o momento, em busca dos nutrientes corretos para determinadas doenças ou sua prevenção, para todas as faixas etárias ou simplesmente para um envelhecimento saudável. Assim, aos poucos, a medicina foi trazenco à tona os nutrientes que têm real importância na prática clínica na correção de deficiências específicas e no metabolismo intermediário de diversas reações orgânicas.

Os minerais, encontrados tanto no corpo quanto nos alimentos, são substâncias essenciais aos adultos em funções específicas, consequentemente, ao funcionamento harmonioso do organismo. Sua deficiência pode trazer disfunções e até mesmo patologias. Dos 95 elementos químicos, pelo menos 24 têm função essencial no corpo e devem ser fornecidos na dieta. Destes, 14 são necessários em quantidades muito pequenas, e por isso são comumente denominados oligoelementos ou microelementos. Dentre todos os oligoelementos, cinco são considerados essenciais para a vida em mamíferos, sendo eles: manganês, cobalto (na vitamina B12), ferro, cobre e zinco. Os micronutrientes são uma série de elementos presentes em quantidades mínimas nos tecidos corporais e essenciais em funções específicas e por isto, existe considerável incerteza sobre a dose correta para ingestão dietética e sobre a dosagem a ser considerada como deficiente.

O zinco é classicamente descrito como um componente essencial de muitas enzimas envolvidas em todas as principais vias metabólicas, tendo um papel crítico na síntese de proteínas e metabolismo dos carboidratos. É importante na substituição de perda tecidual, na manutenção do paladar e olfato, na cicatrização, e representa papel essencial na função imunológica. Os órgãos mais ricos em zinco são os olhos, a próstata, os músculos, o fígado, os rins e os ossos, sendo sua maior concentração de 571mg/kg nos olhos e retina e a menor de 67mg/kg no pulmão.

As recomendações de zinco variam de 3 a 15mg/dia nas várias faixas etárias e situações como gestação e lactação. Do consumo diário de cerca de 10 a 15mg/dia, a maioria é absorvida pelo duodeno, jejuno e íleo e uma pequena quantidade é absorvida no estômago e cólon. O organismo apresenta um mecanismo de defesa onde ao aumentarmos a oferta de zinco da dieta, sua absorção é reduzida. Sendo assim, a deficiência do zinco gera uma maior absorção no organismo. O excesso é excretado pelas fezes principalmente, mas também, em menores quantidades, pelo suco pancreático e urina. O metabolismo de um oligoelemento pode ser profundamente afetado pela interação com os demais, não podendo ser considerado isoladamente. A alta ingestão de zinco, por exemplo, leva a alteração do metabolismo do cobre, afetando a sua absorção e podendo levar à deficiência.

A deficiência de zinco pode acontecer nas seguintes situações: alcoolismo, síndromes disabsortivas intestinais, diarréia grave e prolongada, enteropatias causadoras de perda de proteínas, síndrome nefrótica, grandes queimados, gravidez, aleitamento materno, nutrição parenteral por longo período, desnutrição e desidrose. A deficiência leva a perda do paladar e do olfato, porém sua reposição não tem boa resposta. Diferente do que se observa com o aumento da velocidade de cicatrização de ferimento e úlceras vasculares em até 50% quando os níveis plasmáticos são corrigidos a valores adequados. A deficiência de zinco também tem influência negativa na função imunológica.

Alguns estudos têm demonstrado relação entre a concentração de zinco e o diabetes mellitus. O diabetes é uma doença crônica em que o organismo tem dificuldade em absorver a glicose. Este excesso de glicose no sangue leva a reações de estresse oxidativo, responsável pelas complicações do diabetes como neuropatias, retinopatias (alterações na visão) e nefropatias (alteração da função renal). Evidências existem a respeito do metabolismo de muitos elementos traço em diabéticos e que estes nutrientes têm papel específico na origem e progresso da doença. Foi demonstrado que as concentrações de zinco no sangue estavam significantemente baixas nos diabéticos em relação ao resto da população, sugerindo que possa haver um papel importante da concentração de zinco no surgimento e no controle do diabetes

As principais fontes de zinco são as ostras, que proporcionalmente fornecem o maior aporte desta substância. Outras fontes são as carnes vermelhas, aves, grãos, cereais integrais, feijão seco, nozes, amendoim, frutos do mar e matinais fortificados. Cerca de 80% do zinco contido na dieta provém de fontes como o leite e derivados e mariscos. O vinho tinto parece melhorar sua absorção. O zinco melhor absorvido é o do leite materno em relação ao leite de vaca. As fibras e os fitatos impedem a absorção de zinco e estão presentes nos pães, cereais, legume e leguminosas com a soja.

O zinco está envolvido em várias funções como síntese de proteínas e colágeno, no metabolismo de carboidratos (glicose), na adesão e agregação plaquetária (a suplementação traz de volta os níveis adequados à agregação e adesividade plaquetária), na atividade imunológica, controle de aterosclerose e, como já foi dito, no paladar e olfato.

Em algumas situações se faz necessária a preocupação em quantificar o nível sérico de zinco e/ou suplementá-lo como forma de atuação preventiva, como em recém-nascidos pré-termos (antes dos 9 meses) que podem desenvolver deficiências posteriormente; cirrose hepática, obesidade (obesos têm desnutrição devido à ingestão de “alimentos vazios” de nutrientes e deve ser acompanhado atentamente nos casos submetidos à cirurgia de obesidade), praticantes de atividade física (o exercicio intenso pode causar baixa na defesa do organismo) etc.

A intoxicação por zinco inclui náuseas, dor epigástrica, vômitos, febre e diarréia, que podem ser desencadeados com doses superiores a 150mg/dia.

Dra. Patrícia A. Oliveira

Deixe uma resposta