Sono e Obesidade

Atualmente, a obesidade vem sendo considerada uma pandemia mundial (TAHERI, 2006). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de obesos entre 1995 e 2000 passou de 200 para 300 milhões, totalizando quase 15% da população mundial (ROMERO; ZANESCO, 2006). A etiologia da obesidade é multifatorial (ROMERO; ZANESCO, 2006) e dentre as causas estão as mudança na ingestão alimentar, estilo de vida, ambiente, a genética (DE CASTRO, 1993; DE CASTRO, 1993b; DE CASTRO, 1998; DE CASTRO, 1995), causas fisiológicas, psicológicas (DE CASTRO; BELLISLE; DALIX, 2000) e mais recentemente o sono (ROMERO; ZANESCO, 2006; JONES et al, 2007; NANETTE STROEBELE; RONTOYANNI et al, 2007; BJORVATN et al, 2007).

A diminuição do tempo de sono tornou-se comum na atualidade, pelas cobranças e oportunidades da sociedade moderna (SPIEGEL et al., 2004). Estudos atuais têm demonstrado que uma curta duração de sono está associada a alterações nos níveis de hormônios que regulam o apetite (serotonina, hipocretina, leptina e grelina) e o metabolismo da gordura (cortisol e GH) (RONTOYANNI et al., 2007; SPIEGEL et al., 2004; VON KRIES et al., 2002; GUPTA et al., 2002). Estes estudos mostram uma relação importante entre o comportamento alimentar e o padrão de sono.

Embora os mecanismos que esclareçam essas associações não estejam totalmente entendidos, sabe-se que os distúrbios provocados pelas alterações nos horários sono/vigília influenciam o apetite, a saciedade e, consequentemente, a ingestão alimentar, o que parece contribuir para o aumento da obesidade (SPIEGEL et al, 2004, SCHEEN, 1999)

Curiosamente, ao mesmo tempo em que a duração no tempo de sono está diminuindo, o índice de massa corporal (IMC) está aumentando. Uma série de estudos indicam de forma mais consistente que a duração do sono inferior a 6 horas está mais associada a um IMC elevado e obesidade do que a duração maior que 9 horas (TAHERI et al, 2004; VIOQUE; TORRES; QUILES, 2000).

Acredita-se que essas questões estejam altamente relacionadas, pois dados epidemiológicos demonstram que indivíduos com uma menor duração de sono apresentam uma elevação no IMC (TAHERI et al, 2004; HASLER et al, 2004; HESLOP et al, 2002) e da quantidade de gordura corporal (TAHERI et al, 2004; SPIEGEL, 2004; RONTOYANNI et al, 2004), em diferentes faixas etárias.

Rontoyanni et al. (2007), em um estudo com 35 mulheres gregas, verificou uma correlação negativa entre a duração de sono e o percentual de gordura corporal, sendo que cada hora de sono reduzida por noite correspondia a um aumento de aproximadamente 2,8% da gordura corporal. Os autores concluíram que uma curta duração de sono pode ser um fator de risco para a obesidade.
Diante deste contexto, é importante que o profissional de saúde tenha conhecimento que o sono é um fator que predispõe a obesidade, isto para que a sua conduta seja mais eficiente com seu paciente.

Referências BJORVATN, B. et al. The association between sleep duration, body mass index and metabolic measures in the Hordaland Health Study. J Sleep Res, v 16, p 66-76, 2007.
TAHERI, S. The link between short sleep duration and obesity: we should recommend more sleep to prevent obesity. Arch.Dis.Chlid, v 91, p 881-884, 2006.
ROMERO, C.E.M.; ZANESCO, A. The role of leptin and ghrelin on the genesis of obesity. Rev. Nutr. , v. 19, n. 1, 2006.
DE CASTRO, J.M. Genetic influences on daily intake and meal patterns of humans. Physiol Behav, v 53, n 4, p 777-82, 1993.
DE CASTRO, J.M. A twin study of genetic and environmental influences on the intake of fluids and beverages. Physiol Behav, v 54, n 4, p 677-87, 1993b.
DE CASTRO, J.M. Genes and environment have gender-independent influences on the eating and drinking of free-living humans. Physiol Behav, v 63, n 3, p 385-95, 1998.
DE CASTRO, J.M. The relationship of cognitive restraint to the spontaneous food and fluid intake of free-living humans. Physiol Behav, v 57, n 2, p 287-95, 1995.
DE CASTRO, J.M., BELLISLE, F., DALIX, A.M. Palatability and intake relationships in free-living humans: measurement and characterization in the French. Physiol Behav, v 68, n 3, p 271-7, 2000.
GUPTA, N.K., MUELLER, W.H., CHAN, W., MEININGER, J.C. Is obesity associated with poor sleep quality in adolescents? Am J Hum Biol, v 14, p 762– 8, 2002.
HASLER, G. et al., The Association Between Short Sleep Duration and Obesity in Young Adults: a 13-Year Prospective Study. SLEEP, v 27, n 4, 2004.
HESLOP, P., SMITH, G.D., METCALFE, C., MACLEOD, J., HART, C. (2002) Sleep duration and mortality: The effect of short or long sleep duration on cardiovascular and all-cause mortality in working men and women. Sleep Med 3:305–314.
JONES, N., et al. An investigation of obese adults’ views of the outcomes of dietary treatment. J Hum Nutr Diet, v 20, p 486-94, 2007.
NANETTE STROEBELE, M.A., DE CASTRO, J.M. Effect of ambience on food intake and food choice. Nutrition, v 20, p 821-38, 2004.
RONTOYANNI, V.G., et al. Association between nocturnal sleep duration, body fatness, and dietary intake in Greek women. Nutrition. 2007.
SCHEEN, A.J. Clinical study of the month. Does chronic sleep deprivation predispose to metabolic syndrome? Rev Méd Liège, v 54, p 898-900, 1999.
SPIGELl, K., TASALI, E., PENEV, P., VAN CAUTER, E. Brief communication: sleep curtailment in healthy young men is associated with decreased leptin levels, elevated ghrelin levels, and increased hunger and appetite. Ann Intern Med, v 141, p 846 –50, 2004.
TAHERI, S., LIN, L., AUSTIN, D., YOUNG, T., MIGNOT, E. Short sleep duration is associated with reduced leptin, elevated ghrelin, and increased body mass index. PLoS Med, v 1, p E62, 2004.
VON KRIES, R., TOSCHKE, A.M., WURMSER, H., SAUERWALD, T., KOLETZKO, B. 2002. Reduced risk for overweight and obesity in 5- and 6-y-old children by duration of sleep—a cross-sectional study. Int J Obes Relat Metab Disord, v 26, p 710–6, 2002.

Fonte deste artigo: RGNutri http://www.rgnutri.com.br

O livro de bolso em capa dura apresenta métodos práticos para recuperar a saúde. Traz informações sobre problemas específicos relativos ao sono, como roncos, terrores noturnos e bruxismo; uma série de terapias convencionais e complementares; os fatores agravantes para os distúrbios de sono e explica a terapia cognitiva de comportamento.

Deixe uma resposta