Soja e Doença cardiovascular – Evidências Clínicas

As doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 20% das mortes em todo o mundo. Inúmeras pesquisas mostram a preocupação pela busca por alimentos saudáveis ricos em componentes ativos com a capacidade de prevenir e até mesmo controlar doenças.

Os efeitos protetores da soja e seus derivados sobre a doença cardiovascular são manifestados através das alterações lipídicas, efeitos vasculares, resistência insulínica e progressão da placa de aterosclerose.

A soja e seus derivados protéicos são considerados alimentos funcionais, pois oferecem benefícios à saúde que vão além da nutrição básica. De acordo com a Portaria 398, de 30 de abril de 1999, da ANVISA o termo alimento funcional é definido como “todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte de uma dieta usual, produz efeitos metabólicos e ou fisiológicos benéficos à saúde, devendo ser seguro para o consumo sem supervisão médica”.

A soja tem recebido atenção dos pesquisadores por se tratar de um alimento rico em proteínas de boa qualidade, possui ácidos graxos poliinsaturados e compostos fitoquímicos como: isoflavonas, saponinas, fitatos, dentre outros. Também é uma excelente fonte de minerais como: cobre, ferro, fósforo, potássio, magnésio, manganês e vitaminas do complexo B.

Para acessar a tabela com o valor nutricional da soja, clique aqui.


Os principais componentes bioativos da soja são:

– Aminograma: A relação arginina/lisina, maior na soja em comparação com a caseína, promoveria alguma ação protetora e de menor incremento na arteriosclerose.

– Globulinas de soja: poderiam estimular a captação de LDL-colesterol por receptores hepáticos.

– Ácido Fítico: promove quelação do ferro, cálcio, zinco e magnésio no trato gastrointestinal. Dietas com alta relação zinco/cobre estão relacionadas com hipercolesterolemia, deste modo com a ação quelante do ácido fítico ocorreria déficit de zinco e menor relação zinco/cobre.

– Inibidores de Tripsina: Os inibidores de tripsina, no caso específico da soja o chamado inibidor de Bowman-Birk, estão relacionados com o incremento na produção e eliminação da bile.

– Saponinas: atuam no incremento da eliminação de bile a nível intestinal.

– Isoflavonóides: principal fitoesteróis da soja. O caráter estrogênico é atribuído ao fato de a estrutura química de seus componentes bioativos (genisteína, gliciteína, daidzeína etc) ser parecida com o hormônio feminino, o estradiol, que se encaixa com os receptores de estrógeno. Os efeitos relacionados a essa característica hormônio-like seriam observados na maior captação hepática do LDL-colesterol, incremento na elasticidade arterial e melhora do tônus vasomotor arterial.

– Fibras: O polissacarídeo de soja poderia, em grandes quantidades, estar relacionado com a hipocolesterolemia.

– Óleo: representam 18 a 20% da composição nutricional da soja, sendo a predominância de polinsaturados (58%), seguido de monoinsaturados (23%) e saturados (15%).

Dentre as aplicações clínicas da soja como prevenção a várias patologias, reside na prevenção às doenças cardiovasculares e às neoplasias a grande totalidade de trabalhos científicos consagrados e amplamente difundidos. Sendo assim, a FDA (Food and Drug Administration), em 1999, baseada em estudos científicos reconheceu a eficiência da ingestão diária de 25 gramas de proteínas de soja ( cerca de 60 gramas de grãos ou farinha de soja) para a redução significativa das taxas do colesterol sangüíneo total, do LDL-colesterol e, também, aumento os valores de HDL presentes no sangue, reduzindo assim os riscos de doenças cardiovasculares, como o infarto, a trombose e a aterosclerose.

O concentrado de soja contém alto teor de isoflavonóides, porém a quantidade deste componente da soja pode variar conforme região de cultivo, armazenamento e processamento industrial. A genisteína é um isoflavonóide responsável pela inibição da enzima alfa-glicosidade. O bloqueio da ação desta enzima retarda a digestão de carboidratos no trato intestinal, reduzindo a hiperglicemia pós-prandial e o nível de insulina plasmática, de forma similar a faseolamina. Além disso, a genisteína tem efeito redutor de lipídios plasmáticos (especialmente na presença de hipercolesterolemia) e pode aumentar a complacência arterial (liberação de óxido nítrico pelo endotélio). Outra provável ação das isoflavonas seria na pressão arterial, atuando na maior capacidade de reação aos tensores que exigem o dilatamento da artéria, tornando-a mais elástica e flexível, com menor propensão ao risco de infarto ou derrame. Portanto, os isoflavonóides podem prevenir doenças crônicas não-transmissíveis especialmente por reduzir glicose e lipídios plasmáticos que, por sua vez atuam como agentes protetores contra doenças coronarianas, diabetes mellitus e obesidade.

Em 1995 Anderson e colaboradores, realizaram metanálise com 38 trabalhos, verificando, em pacientes que consumiram 47g de proteína de soja por dia (contendo 100mg de isoflavonas) ao invés da proteína animal, redução significativa de colesterol total (9,3%), LDL-colesterol (12,9%) e triglicérides (10,5%).

Na doença cardiovascular, estudos indicam que dietas à base de proteína animal têm a propriedade de aumentar a concentração sanguínea de colesterol, principalmente a fração LD. Em comparação, quando a proteína de seja substitui a proteína de origem animal na dieta, a hipercolesterolemia tem maior controle. Nas décadas de 70 e 80, estudos de Sirtori e colaboradores e Descovich e colaboradores apresentaram que a substituição da proteína animal por soja era capaz de reduzir o colesterol LDL de 20 a 30% em hipercolesterolemia severa.

Numa revisão realizada pela American Heart Association pode-se obsevar que a proteína de soja diminui o colesterol em 3% quando associada a dieta com baixo teor de gordura e colesterol. Além disso, os benefícios cardiovasculares se devem ao elevado índice de gorduras polinsaturadas, fibras, vitaminas, minerais e baixo teor de gordura saturada.

Sendo assim, a AHA considera a proteína de soja como substituto ideal dos alimentos poucos saudáveis, com alto teor de gordura saturada e colesterol. Porém não existem estudos clínicos de longa duração sobre o uso prolongado de soja e a redução da incidência de eventos coronarianos.

Nutricionista Michele Caroline de Costa Trindade
Dr.Daniel Magnoni

Fonte: http://www.nutricaoclinica.com.br

Deixe uma resposta