O que é o leite materno?

O que sabemos do Leite Materno vem daquilo que observamos do leite de vaca, um líquido branco e brilhante.O leite de canguru é rosado. Mas o que interessa é que o leite é espécie-específico, porque sua composição é feita para determinadas necessidades de crescimento e maturação do bebê de cada espécie. Por exemplo, o leite de vaca contém mais ácidos graxos voláteis que o leite humano, e bebês humanos não digerem esses ácidos muito bem; eles produzem muitos gases nos bebês. O leite de vaca também contém mais ferro mas este não é aproveitável pelo sistema digestivo humano.

O bebê absorve melhor o ferro do leite materno, que também é digerido em cerca de vinte minutos, enquanto o leite de vaca pode levar cerca de duas horas para ser totalmente digerido (a fórmula). O leite materno também contém cerca de uma centena de aminoácidos, vitaminas, sais minerais, e açúcares, compondo uma receita especialmente feita para as necessidades do bebê humano.

A composição do leite também oferece a chave para o estilo e intensidade do comportamento materno espécie-específico. Em espécies cujas mães só amamentam ocasionalmente e deixam seus bebês sozinhos por longos períodos, o leite é rico em gordura e proteínas, de modo que o bebê possa ser compensado (pela proteína) e satisfeito (pela gordura) por longos períodos, sozinho. Quando o leite é pobre em gordura e proteína, como o leite humano, isso indica que a amamentação é destinada ou tende a ser mais constante. O leite humano contém cerca de 88% de água e 4,5% de gordura em média, dependendo do estilo de aleitamento; intervalos longos produzem leite com baixa concentração de gordura, enquanto a amamentação contínua produz alta concentração de gordura. Ao contrário, o leite da foca é constituído de 54% de gordura, o que é bastante. Ou seja, o bebê foca é aleitado a longos intervalos, e também precisa de altas concentrações de gordura para adquirir as grossas camadas de gordura corporal para viver em ambiente aquático.

Os bebês nascem com certa quantidade de anticorpos circulantes, que adquirem de suas mães através da placenta. Mas essa imunidade é frágil e eles precisam ser expostos ao mundo externo e experimentar reações imunitárias para construir seu alicerce imunitário para combater os germes. O colostro e depois o leite materno são verdadeiras usinas de protetores contra os vírus e bactérias e são uma forma transicional espetacular entre o período pré-natal e a infância tardia, quando o sistema imunológico já se desenvolveu totalmente (pela idade de cinco anos). Essas descobertas são relativamente recentes, o que explica, em parte, a idéia de que a fórmula se compara ao leite materno.

O fator mais importante nessa barreira imunológica transferida é a lactoferrina, uma proteína que protege contra a escherichia coli e o estafilococo, as causas mais incapacitantes da diarréia e da mortalidade infantil. O leite materno também oferece propriedades antivirais que se incorporam fisicamente aos germes da cólera e a giárdia, o que explica porque os bebês amamentados, vivendo em ambientes sem higiene, são capazes de sobreviver. São importantes também no colostro e no leite materno as cinco categorias de anticorpos chamados imunoglobulinas, que protegem contra infecções e são a principal barreira imunitária dos bebês. Esse sistema é especialmente importante porque atua dentro das mucosas que revestem o nariz, os pulmões e brônquios, os intestinos – as áreas mais vulneráveis dos bebês aos agentes patógenos. IgA é uma delas.

A IgA secretora (S-IgA) é encontrada no sistema respiratório e trato intestinal de adultos. Quando a mãe ingere ou inala agentes que causam doenças (patógenos) as moléculas de S-IgA se ligam a esses agentes ou antígenos, e se tornam específicas para esses agentes. A S-IgA da mãe é transferida do sangue para o leite.

Pelo 4º mês de vida, os bebês amamentados recebem cerca de 0,5 g de anticorpos diariamente, que se alojam nos pulmões e intestinos. Como as maiores causas de morte em bebês são a diarréia e a pneumonia, a imunidade conferida pelo LM reduz incrivelmente a mortalidade infantil. Há evidências de que o sistema imunológico dos bebês amamentados amadurece e se fortalece mais rápida e mais intensamente, já que não sofrem os efeitos devastadores sobre a resistência, causados pelos agentes patógenos do meio.

Fonte: Referência: Our babies, Ourselves / by Meredith Small, Anchor Books, NY, 1999.

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