Café

O nome Café origina-se do árabe qahwa que significa vinho, o “vinho da Arábia”. Têm-se os primeiros registros do café na Etiópia há mais de seis mil anos, onde a planta, que ainda fazia parte da vegetação natural, era misturada com manteiga e consumida em forma de pasta (Hoff e Hoff).

Foram os árabes os responsáveis pelo cultivo do café, a partir do século XVI. No século seguinte, o café começou a ser saboreado por europeus, mas a produção ainda era toda árabe (Hoff e Hoff).

Uma vez aceito como bebida na Europa, o café começou a ser cultivado nas colônias pertencentes aos países europeus. Tornou-se uma mercadoria que produzia grandes comércios e altos negócios (Hoff e Hoff).

No Brasil, a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará, em 1727, o sargento Francisco de Mello Palheta buscou mudas de café na Guiana Francesa e as levou a Belém. O cultivo espalhou-se rapidamente pelo Brasil, no século XVIII, sendo produzido em grande escala nas fazendas que operavam com trabalho escravo. No século XIX, o Brasil tornou-se um grande fornecedor de café para a Europa, ao lado do Haiti e da Colômbia (Hoff e Hoff).

O consumo do café, no Brasil, é uma tradição alimentar. Muitos brasileiros tomam café, puro ou misturado ao leite, de manhã, nas horas de conversas, depois do almoço, na casa familiar, nos bares, nas repartições de trabalho, na lavoura, e na hora do descanso. É nutrição social de pobres e ricos, brancos e negros, e está presente em todos os lugares (Hoff e Hoff).

Além de ser uma bebida tradicional, o café é utilizado na produção de bombons, chocolates, doces caseiros, em bebidas alcoólicas e em outras formas de mercadorias (Hoff e Hoff). Esse largo espectro de consumo suscita amplo interesse, particularmente, o nutricional. Novas perspectivas para o café advêm da recente inclusão dessa bebida no rol de alimentos funcionais (Costa e Dorea 2005).

O café é uma fonte importante de antioxidantes e pode contribuir marcadamente na ingestão de polifenóis e flavonóides (Manah et al. 2004). Seus principais antioxidantes são os ácidos hidroxicinâmicos, tais como: caféico, cumárico, ferrúlico e os clorogênicos (Trugo 2003).

Outros alimentos também fornecem compostos fenólicos como o chocolate e os chás. No entanto, o café é o único que sofre torrefação, a qual permite que altas temperaturas destruam alguns dos compostos fenólicos e favoreçam o desenvolvimento de outras substâncias antioxidantes. O desenvolvimento de substâncias antioxidantes durante a torrefação se dá por meio dos produtos da reação de Maillard, e a estocagem dos grãos torrados, bem como as condições de torra, podem modificar os teores dessas substâncias na bebida (Nicoli et al. 1997).


O efeito antioxidante do café tem sido mostrado na redução de suscetibilidade a oxidação de partículas LDL (Yukawa 2004).

Os componentes presentes na infusão cafeinada reduzem o risco de formação de cálculos biliares e estão associados com a prevenção dos sintomas de doenças biliares em mulheres (Ruhl e Everhart 2000), sendo recomendado o consumo de café como medida preventiva para a colecistolitíase (Lammert e Matern 2004).

Estudos mostraram que o consumo de café e a realização de exercícios tiveram efeito lipolítico maior que o exercício isolado (Mougios et al. 2003).

Além disso, o café tem efeitos psicoativos e sobre o sistema nervoso central. Existem estudos que mostram associação inversa do consumo de café e risco de suicídios (Kawachi et al. 1996); também, efeito positivo do consumo de café na velocidade de codificação e processamento mental de novas informações, que favorecem esse tipo de resposta em pessoas idosas (Johnson-Kozlow et al. 2002).


Os efeitos do consumo de café se estendem além dos efeitos conhecidos sobre o estado de alerta e no humor. O café cafeinado está associado com menor incidência da doença de Parkinson em vários grupos populacionais (Ascherio et al. 2001, Hernan et al. 2002, Abbott et al. 2003, Tan et al. 2003, Ragonese et al. 2003) e do mal de Alzheimer (Lindsay 2002, Heuser 2003).

Devido ao consumo cotidiano de chás, café e chocolate, existe preocupação com os níveis de ingestão de cafeína presentes nessas bebidas. Além disso, a cafeína também está presente em medicamentos e em diversas bebidas, o que pode contribuir para aumentar o consumo. Assim, atenção deve ser dada aos potenciais efeitos adversos do consumo excessivo de cafeína.

A cafeína é hoje considerada como a substância psicoativa mais consumida em todo o mundo, por pessoas de todas as idades, independente do sexo e da localização geográfica. Através de suas fontes comuns na dieta, que são chá, café, produtos de chocolate e refrigerantes, o consumo mundial de cafeína é estimado em mais de 120.000 toneladas por ano (Suarez-Queiroz et al. 2005 apud Santos et al. 2007). Entre os alimentos que contém este alcalóide, o café é o que mais contribui para a sua ingestão.


A relação entre o consumo de cafeína e o possível desenvolvimento de algumas doenças tem despertado há muito tempo o interesse de cientistas.

Apesar de não existirem evidências de que a ingestão de cafeína em doses moderadas (~300 mg/dia) sejam prejudiciais à saúde de um indivíduo normal, esta substância vem sendo continuamente estudada pois ainda persistem muitas dúvidas e controvérsias quanto aos seus efeitos adversos na saúde (Nicoli et al. 1999).

A quantidade de cafeína em café é dependente de uma série de fatores como a variedade da planta, método de cultivo, condições de crescimento, além de aspectos genéticos e sazonais. No caso da bebida, por exemplo, além da quantidade de pó, influenciam também o tipo do produto (torrado ou instantâneo, descafeinado ou regular) e o processo utilizado no seu preparo (Willcox et al. 2004).

Na tabela 1 (Slavin & Joensen 1995 apud Altimari et al 2001) estão as principais plantas e alimentos que contem o princípio ativo cafeína.

Tabela 1. Quantidade de cafeína presente em diversos alimentos.

Referências Bibliográficas:

Hoff M, Hoff M. Café e Cafeterias: Turismo Cultural. Disponível em: http://www.pg.cdr.unc.br/layoutNovo/edicoes/numerodezesseis/CafeeCafeterias.pdf

Costa THM, Dorea J.G. Novos fatos e velhos mitos sobre o café. Brasília Med 2005; 42(3/4):15-20.

Manach C, Scalbert A, Morand C, Remesy C, Jimenez L. Polyphenols: food sources and bioavailability. Am J Clin Nutr 2004;79:727-47.

Trugo LC. Analysis of coffee products. In: Encyclopedia of Food Sciences and Nutrition. 2.ª ed., vol. 3, editors: Luis Carlos Trugo e Paul M. Finglas. Academic Press: Elsevier Science;2003.p.1498-506.

Nicoli MC, Anese M, Manzocco L, Lerici CR. Antioxidant properties of coffee brews in relation to the roasting degree. Lebens Wiss Technol 1997;30:292-97.

Yukawa GS, Mune M, Otani H, Tomé Y, Liang X-M, Iwahashi H, Sakamoto W, Effects of coffee consumption on oxidative susceptibility of low-desncity lipoproteins and lipid levels in humans. Biochemistry (Moscow),2004;69:70-4.

Ruhl CE, Everhart JE. Association of coffee consumption with gallbladder disease. Am J Epidemiol 2000;152: 1034-8.

Lammert F, Matern S. Evidence based prevention of cholecystolithiasis. Deutsc Medizin Wochens 2004;129: 1548-50.

Mougios V, Ring S, Petridou A, Nikolaidis MG. Duration of coffee-and exercise-induced changes in the fatty acid profile of human serum. J Appl Physiol 2003; 94:476-84.

Kawachi I, Willett WC, Colditz GA, Stampfer MJ, Speizer FE. A prospective study of coffee drinking and suicide in women. Arch Intern Med 1996;156:521-5.

Johnson-Kozlow M, Kritz-Silverstein D, Barrett-Connor E, Morton D. Coffee consumption and cognitive function among older adults. Am J Epidemiol 2002;156: 842-50.

Ascherio A, Zhang SM, Hernan MA, Kawachi I, Colditz GA, Speizer FE, Willett WC. Prospective study of caffeine consumption and risk of Parkinson’s disease in men and women. Ann Neurol 2001;50:56-63.

Hernan MA, Takkouche B, Caamano-Isorna F, Gestal- Otero JJ. A meta-analysis of coffee drinking, cigarette smoking, and the risk of Parkinson’s disease. Ann Neurol 2002;52:276-84.

Abbott RD, Webster Ross G, White LR, Sanderson WT, Burchfiel CM, Kashon M, Sharp DS, Masaki KH, Curb JD, Petrovitch H. Environmental, life-style, and physical precursors of clinical Parkinson’s disease: recent findings from the Honolulu-Asia Aging Study. J Neurol 2003;250 (Suppl. 3):III30-9.

Tan EK, Tan C, Fook-Chong SM, Lum SY, Chai A, Chung H, Shen H, Zhao Y, Teoh ML, Yih Y, Pavanni R, Chandran VR, Wong MC Dosedependent protective effect of coffee, tea, and smoking in Parkinson’s disease: a study in ethnic Chinese. J Neurol Sci 2003;216:163-7.

Ragonese P, Salemi G, Morgante L, Aridon P, Epifanio A, Buffa D, Scoppa F, Savettieri G. A case-control study on cigarette, alcohol, and coffee consumption preceding Parkinson’s disease. Neuroepidemiology 2003;22:297-304.

Lindsay J, Laurin D, Verreault R, Hebert R, Helliwell B, Hill GB, McDowell I. Risk factors for Alzheimer’s disease: a prospective analysis from the Canadian Study
of Health and Aging. Am J Epidemiol 2002;156: 445-53.

Heuser I. Prevention of dementias: state of the art. Dutsch Med Wochenschr 2003;128:421-2.

Santos, Marcelo Henrique dos et al. Influência do processamento e da torrefação sobre a atividade antioxidante do café (Coffea arabica). Quím. Nova, Jun 2007, vol.30, no.3, p.604-610. ISSN 0100-4042.

Nicoli MC, Anese M, Parpinel M. Influence of processing on the antioxidant properties of fruit and vegetables. Trends Food Sci. Technol., v. 10, n. 3, p. 94-100, 1999.

Willcox JK, Ash SL, Catignani, GL. Antioxidants and prevention of chronic
disease. Crit. Rev. Food Sci. Nutr. 2004, 44:275-295.

Deixe uma resposta