Café: Mocinho ou Vilão?

Para tomar durante um dia de trabalho, ficar acordado, servir às visitas, servir como desculpa para uma boa prosa, ou para esquentar nos dias frios. Quem não gosta de um cafezinho em um momento desses? É uma boa pedida para os que trocam o dia pela noite, para os vestibulandos ou porteiros, assim como pode ser o melhor companheiro para aquele pão quentinho do café da tarde. Embora seja reconhecido pelo seu odor característico e por todos esses pontos positivos, para muitos o café é considerado vilão. Fala-se muito sobre os males da cafeína para quem a consome diariamente; no entanto, atualmente há fortes campanhas para que o cafezinho volte à mesa, sem culpa. Será mesmo o cafezinho um inimigo?

Ele possui alguns benefícios, se respeitadas as quantidades recomendadas?

Depois de anos de discussão e pesquisa, tal dúvida ainda não foi completamente esclarecida. Apesar de estar, aos poucos, perdendo a sua má fama, a cafeína já foi considerada droga. Em 1962, o Comitê Olímpico Internacional (COI) restringiu o uso dessa substância nos atletas a uma quantidade de 15 miligramas/litro de urina – aproximadamente 5 a 8 xícaras de café consumidas num período de 30 minutos. Desde a determinação do Comitê, apenas um atleta foi desqualificado por apresentar a quantidade determinada de cafeína por litro de urina: um pentatleta australiano durante as Olimpíadas de Seul, na Coréia do Sul, em 1988.

Nos dias atuais surgem, com bastante freqüência, pesquisas com resultados que favorecem o consumo do café. Em uma pesquisa realizada no Instituto de Neurologia da UFRJ, por exemplo, os pesquisadores acompanharam durante uma década mais de 100 mil estudantes de dez a 20 anos.

Chegaram à conclusão de que os jovens que tomavam café todos os dias apresentavam menores incidências de alcoolismo, depressão e dependência química.

Um outro estudo da mesma universidade concluiu que o consumo diário e moderado de café era benéfico ao cérebro, pois a bebida estimulava o sistema normal de vigília, aumentando a atenção, a concentração e a memória, melhorando assim a atividade intelectual normal. A partir dessas primeiras evidências científicas, os estudos prosseguiram durante a década de 90, contando com o apoio da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).

Descobriu-se, então, que o café era a bebida natural mais indicada para estudantes de todos os níveis e atletas, por ajudar no aprendizado, na capacidade intelectual e no humor.

Um estudo realizado com corredores de endurance que consumiram aproximadamente 10 mg de cafeína por kg de peso corporal mostrou aumento significante no tempo de esforço até a exaustão, demonstrando que grande dose de cafeína aumenta a performance de endurance. Outros mostram, ainda, que não existe relação direta dose-resposta sobre a performance de endurance, não havendo nenhum benefício quando ciclistas ingeriram doses de cafeína acima de 5mg/kg do seu peso corporal. A cafeína parece ter, ainda, um efeito benéfico sobre a performance durante eventos de curta duração (até 25 minutos). No entanto, a performance em tais eventos não parece ser limitada pelo esgotamento do glicogênio, mas possivelmente por outros fatores, incluindo a estimulação neural e muscular. Os efeitos do consumo de café se estendem além dos efeitos conhecidos sobre o estado de alerta e no humor. O café cafeinado está associado com menor incidência da doença de Parkinson em vários grupos populacionais, como também do mal de Alzheimer.

Os estudos que comprovavam que a ingestão de quantidades muito pequenas de café beneficiava positivamente o desempenho nos exercícios fizeram com que, em 2004, a Agência Mundial Antidoping (WADA) retirasse a cafeína da lista de substâncias proibidas pelo COI. A partir de então, os atletas podem consumir o cafezinho, os chás, as bebidas energéticas e o chocolate com maior tranqüilidade. Não somente atletas de elite, como também os praticantes de atividade física, podem beneficiar-se do uso da cafeína, com melhora do desempenho e redução do desconforto e da fadiga que muitas pessoas sentem ao praticar exercícios.

O grupo a favor do café acredita que a cafeína, além de estimular as pessoas a exercitarem-se durante mais tempo, também promove uma maior perda de gordura e ajuda a prevenir a fadiga provocada pelo treino.

A sensação de estar desperto que se sente após tomar um café acontece devido aos efeitos estimulantes da cafeína.

Funciona provocando o aumento da atividade dos neurônios, que por sua vez estimula uma maior secreção de adrenalina. O resultado? A percepção de uma injeção de energia!

Apesar de todas as qualidades e benefícios citados, ainda é preciso ter cautela com o consumo. O exagero pode levar à sérias conseqüências como agitação, ansiedade, irritabilidade, tremor das mãos, insônia, dor de cabeça, irritação gástrica, aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial

O consumo médio aceito é de até cinco xícaras de café (50 ml) por dia (a não ser em caso de contra-indicações médicas).

E é importante lembrar que existem outros alimentos que também fornecem compostos encontrados no café, como o chocolate e os chás (Veja Tabela). No entanto, o café é o único que sofre torrefação, a qual favorece o desenvolvimento de inúmeras substâncias antioxidantes.

Como á possível perceber, apesar das inúmeras controvérsias sobre o consumo de cafeína e problemas relacionados à saúde, o café e outros alimentos cafeinados vêm, aos poucos, sendo mais estudados e para algumas pessoas os benefícios, desde que consumidos moderadamente, podem levar ao bem estar, sensação de alerta e ainda melhor desempenho esportivo. Como estes resultados são individuais, vale avaliar seu limite.

Tabela : Quantidade de cafeína presente em diversos alimentos.

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